Os “Atos apócrifos de Pedro” possuem introdução e tradução de Valtair Afonso Miranda. Se havia qualquer esperança de ser uma obra autêntica, morre logo nas primeiras páginas.

Pedro tem uma filha doente e a mantém doente para que não perca a virgindade. A menina não tem o direito de se casar?  Além disso a “profecia” diz que se ela se manter saudável causará a ruína de muitos, ou seja, ela não pode ser sã para não pecar e não levar os homens que a desejam ao pecado. Não há nenhuma tipo de história semelhante na bíblia de que a liberdade da pessoa é tirada para que não venha a pecar. (Existe uma promessa de virgindade para manter a promessa do pai da moça mas é diferente). Se fosse lícito tirar a liberdade da pessoa para não pecar, era melhor ter tirado o convite de judas para ser apóstolo ou ter prendido Caim desde a infância para não matar Abel! Mas a menina deverá permanecer doente para não trazer problemas ao pai e a ela mesma!

Um jardineiro tinha uma filha virgem e pede que Pedro ore por ela. Assim ela é morta para manter a virgindade para sempre. Claramente a obra traz o desejo medieval católico de manter as filhas virgens quando Deus deu o casamento a toda a raça humana. Uma característica anticristã pois quem proíbe o casamento, conforme o profeta Daniel, é o anticristo:

Daniel 11:37: não terá respeito ao Deus de seus pais, nem terá respeito ao amor das mulheres.

Muitas histórias absurdas continuam ser contadas, como a restauração milagrosa de uma estátua do imperador (“Cesar”) para que Pedro não sofresse perseguição do Império (detalhe: após um demônio exorcizado quebrá-la). Deus jamais restauraria um ídolo! Temos também declaração do apóstolo Paulo de abolição do sábado quando Jesus disse na bíblia disse que “não veio mudar a lei e os profetas”. Vemos Pedro chamando Maria de “Virgem Maria“. Na bíblia toda, ela nunca é chamada de “virgem Maria” (após o nascimento de Jesus) sendo uma expressão totalmente católica e pré medieval. Entre outras histórias absurdas: cachorro falante para convencer um rico romano chamado Marcelo a se converter, e o cachorro logo após vem a morrer. Por qual razão Deus mataria um cão que falou as coisas que Pedro pediu? É o mesmo caso da filha de Pedro: abençoada e almadiçoada com poucos minutos de diferença!

Para piorar ainda mais os abusos e absurdos, Pedro ressuscita um peixe, somente porque a multidão pediu mais milagres para poder crer! Quando a multidão pediu milagres a Cristo, Ele disse que só teriam o sinal de Jonas (no caso, Sua volta/ressurreição depois de 3 dias). Em nenhum momento na Bíblia quem pediu milagres como PROVA DE FÉ foi atendido. Exceto quando Deus quis dar de livre e espontânea vontade como no caso da multiplicação de pães e peixes e mesmo após ao milagre a multidão não continuou seguindo a Cristo:

João 6:66-67: Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?

Temos também um bebê que fala com voz adulta para repreender o falso profeta Simão “o mágico”. Em todas as escrituras, Deus abriu o entendimento apenas uma vez de um animal (a jumenta de balãao) mas pode ser um anjo que tenha falado “através dela” e não verdadeiramente a jumenta tenha falado. Mas aqui em poucos minutos, Deus abre o entendimento do cachorro e do bebê e eles tagarelam dez vezes mais do que a jumenta do antigo testamento! Então temos a repetição de forma exagerada ou ampliada de milagres bíblicos raríssimos, e ainda no meio de multidões não judias, o que demonstra alta probabilidade de ser uma passagem fictícia ou mentirosa. Também temos Marcelo, o romano convertido, purificando sua casa com “água benta” o que é um sincretismo (mistura de paganismo com cristianismo). Além disso, mulheres que eram cegas vêem Deus em 3 formas diferentes: ancião, jovem e criança. Quem se transforma em coisas é o Diabo (II Corintios 11:14), não Deus O Pai, que nenhum homem viu nem pode ver. (I Timóteo 6:16)

Pra completar existe um espetáculo com ressurreição de mortos acompanhado por prefeito, senadores e figuras importantes de Roma que se fosse real, Pedro não teria sido morto de forma alguma. Depois novamente é pregado uma castidade exacerbada na qual até esposas de um único marido se afastam do leito conjugal sendo contrário ao evangelho:

1 co 7:5 Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência.

Após a morte de Pedro, ele retorna numa aparição espírita para Marcelo, o repreendendo por ter gasto dinheiro na preparação do corpo (de Pedro). Novamente contrário ao texto bíblico:

Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, Eclesiastes 9:5.

Para quem conhece as escrituras, Atos apócrifos de Pedro, é um lixo completo. E seus defeitos não devem ser amenizados com palavras doces, de forma alguma.

A introdução inicial de Valtair Afonso Miranda trata a obra como uma novela “que não busca ensinar” mas é inegável que “ensinou” e enganou muita gente semianalfabeta que viveu na idade média e não tinha acesso às escrituras autênticas (a Bíblia).

Julho 2024.

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