Autor: Gerhard Padderatz – empresário, autor, editor da revista “BWGUNG” da Conferência de Baden-Württemberg, e presidente da “ASI Alemanha”. Publicado inicialmente na edição de março/abril de 2014 da “BWGUNG”, posteriormente na “Adventist Review” de 24 de julho de 2014, e traduzido para português por Voz da Bíblia.

Muitos adventistas esfregam os olhos de espanto nos dias de hoje: eles veem um papa que não se encaixa na sua imagem do anticristo. O papa Francisco parece extremamente simpático. Ele parece humilde e modesto, rejeita a pompa e a ostentação, usa um carro pequeno em vez de um sedan de luxo, distribui dinheiro a pessoas pobres à noite, e questiona o poder da Igreja Católica, e até mesmo do seu próprio escritório. Este “efeito Francisco” não é apenas sentido no Vaticano, mas agora por toda a Igreja Católica. Será que “a besta” se converteu?
Na verdade, essa aparente mudança começou há cerca de 50 anos atrás, mas agora sob o Papa Francisco está atingindo um novo pico. A mudança foi iniciada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965). Desde então, o papado retrata-se em termos muito mais suaves do que aqueles que Ellen White descreveu no livro “O Grande Conflito”. Enquanto o Papa Gregório XVI, no século XIX ainda descrevia a liberdade de consciência como “loucura” e “erro pestilento”, o Papa João XXIII declarou a liberdade religiosa em 1963 como um direito humano básico. O especialista em catolicismo, Hans Heinz, diz no seu livro mais recente: “Entre os seus sucessores, particularmente João Paulo II (1978-2005) não perdeu nenhuma oportunidade de apresentar-se como o campeão da liberdade de consciência e de religião”.1
Campeão da Consciência?
O papa como defensor da liberdade de consciência e de religião – além de ser modesto e humilde? Não é óbvio que a nossa interpretação de Apocalipse 13 não é mais válida? – alguns poderão se perguntar. Não é a nossa imagem negativa do papado influenciada pela história da Idade Média? Será que esta imagem não pertence antes à América anti-católica do século XIX?
Foi este ponto de vista “verdade presente” apenas lá e só nesse momento? Ellen White e os primeiros adventistas mal podiam saber quanto o Concílio Vaticano II mudaria o catolicismo. Se realmente queremos rever a nossa interpretação sobre esse ponto, então teremos de esvaziar a nossa compreensão completa dos eventos do tempo do fim. E se o ecumenismo está sob a liderança católica, então talvez não seja uma tão má ideia? E que tal a suposta inspiração divina de Ellen White? Alguns adventistas já chegaram a conclusões apropriadas. Estarão elas corretas?
Profecia ou Futurologia?
Para responder a estas perguntas, é preciso primeiro perceber que a profecia não é futurologia. Esta última extrapola a partir das tendências do passado para o futuro. Com base nisso, ela pinta um quadro do que presumivelmente vai acontecer. Se sabemos, por exemplo, que a população mundial cresceu nos últimos cinco anos meio bilião (na forma europeia de contar: 500 milhões) de pessoas, podemos supor que em 2019 cerca de 7,6 biliões (na forma europeia: 7 600 milhões) de pessoas habitarão o nosso planeta – considerando alguns fatores.
A profecia, pela sua própria natureza, no entanto, é completamente diferente. Deus não especula sobre o futuro. Ele conhece-o. Porque Ele existe fora do tempo e do espaço, para Ele passado, presente e futuro acontecem ao mesmo tempo. Ele não calcula ou supõe o que vai acontecer – Ele sabe isso. E isso inclui surpresas que nenhum futurólogo jamais teria no seu radar. Podemos aprender isso com a história.
Que futurólogo, por exemplo, previu o colapso da União Soviética e do ataque terrorista de 11 de setembro? Nem um. No entanto, ambos os eventos tiveram consequências que mudaram o nosso mundo. O desaparecimento da União Soviética deixou apenas uma superpotência global, ou seja, os Estados Unidos da América, como sugerido na interpretação adventista de Apocalipse 13. O ataque terrorista de 11 de setembro e a guerra que se seguiu contra o terrorismo têm reforçado o papel dos serviços secretos em todo o mundo. Também resultou no facto de outros países voluntariamente atribuírem a agências de inteligência americanas a liderança nesta batalha. Este ataque terrorista também foi responsável por fornecer a justificação para a mania da recolha de dados da Agência Nacional de Segurança – pelo menos dentro dos Estados Unidos. Através do 11 de setembro demos um passo significativo mais próximo de um controle mundial de todas as pessoas, assim como Apocalipse 13 sugere.
O que vai acontecer a seguir no caminho para o cumprimento da profecia? Nós não sabemos. Nenhum futurólogo sabe. Mas Deus sabe. E até agora Ele tem tido sempre razão.
Encaixa-se?
Esta cara nova e muito simpática do papado encaixa-se exatamente na previsão profética? “Mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13:3)2. Este texto fala não apenas do reforço do poder político do papado, mas também de um aumento em admiração e respeito.
O papa Francisco alcança precisamente isso neste momento. “E adorá-la-ão [a besta] todos os que habitam sobre a terra” (v. 8). O texto fala de uma adoração de proporções mundiais. Na mentalidade esclarecida e liberal do nosso mundo, as pessoas não tolerariam ordens papais e proibições. Mas um modelo de humildade, modéstia e caridade é mais aceitável. Isso é o que estamos vivendo no momento.
De acordo com a CNN, o Papa Francisco é a pessoa mais discutida na Internet em todo o mundo. Mesmo com os ateus, diz o canal de TV, ele agora desfruta de uma popularidade crescente. Certamente por causa disso, a revista Time nomeou-o a Pessoa do Ano de 2013. Ninguém deve disputar a sua sinceridade. A profecia fala sobre o papado e não sobre um papa específico. Sabemos que há um grande estrategista por trás do papado. Por um lado, não sabemos por quanto tempo Francisco será papa. Talvez o seu trabalho seja simplesmente ajudar o papado a ganhar uma nova popularidade, no sentido de um “Pontifex”, um construtor de pontes para o seu sucessor.
Por outro lado, devemos distinguir entre o que está diante dos nossos olhos e o que não podemos ver. O futurólogo – assim como todos os outros que não acreditam na presciência divina – opta por aquilo que está diante dos nossos olhos. O que mais há para fazer? Mas, como crentes, temos uma escolha: cremos que o papado mudou e que a nossa interpretação da profecia divina estava equivocada? Ou confiamos nós que Deus, no final, vai ser bom e que Ele, corroborado pela Sua mensageira Ellen White, forneceu-nos uma visão segura do que se passa nos bastidores e se passará no futuro?
Sem se referir diretamente a qualquer indivíduo, Ellen G. White escreveu sobre enganadores poderosos: “Votados à pobreza e à humildade perpétuas, o seu estudado objetivo era conseguir riqueza e poder para se dedicarem à subversão do protestantismo e ao restabelecimento da supremacia papal. Quando apareciam como membros da sua ordem, ostentavam santidade, visitando prisões e hospitais, cuidando dos doentes e pobres, dizendo que tinham renunciado ao mundo, e usando o nome sagrado de Jesus, que andou a fazer o bem. Mas sob esse irrepreensível exterior, ocultavam-se, frequentemente, os mais criminosos e mortais propósitos. Era princípio fundamental da ordem que os fins justificam os meios. Por este código, a mentira, o roubo, o perjúrio, o assassínio, não só eram perdoáveis, mas recomendáveis, quando serviam os interesses da igreja. (…) e, onde quer que iam, eram seguidos de um reavivar do papado.” 3
Para um mundo que, sob a influência do relativismo se afastou da verdade bíblica e de uma fé salvadora, o comportamento social e gestos de humildade dizem tudo. E o Papa Francisco dominou esses assuntos. No entanto, não devemos esquecer que a Igreja Católica continua a manter heresias gritantes. Estas incluem a mudança dos Dez Mandamentos, a devoção divina a Maria, a doutrina da imortalidade da alma, o purgatório, a tortura eterna no inferno, assim como o bloqueio do acesso direto a Cristo pela intercessão sacerdotal e o rito da confissão. Babilónia está, na verdade, ainda caída. Quando o argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito papa, um dos seus primeiros atos oficiais foi orar a Maria.
Não, o papa não está convertido. E todos os dados indicam que a interpretação adventista de Apocalipse 13 ainda se mantém verdadeira. O novo papa – no meio de toda a legítima simpatia para com ele – ainda a tornou um pouco mais credível.
1 Hans Heinz, Glaube, Macht, und Hybris: Die Katholische Kirche in Geschichte und Prophetie (Mundelsheim, Alemanha: Basista Media, 2013), p. 28.
2 Os textos bíblicos neste artigo são da versão ARA (Almeida Revista e Atualizada, 2ª edição), 1956, 1993, da Sociedade Bíblica do Brasil.
3 Ellen G. White, O Grande Conflito, Publicadora Servir, 2009, pág. 195, 196.


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