
PARIS (França) – Os resultados de um estudo do Instituto Hudson oferecem uma visão sem precedentes da paisagem religiosa na França, país onde o Islã está a caminho de superar o catolicismo romano como a religião dominante. E enquanto os números estão crescendo, os muçulmanos na França estão em intensa atividade, como evidenciado pelo pedido à Igreja Católica Romana para usar seus templos vazios, como forma de resolver os problemas causados ao trânsito quando milhares de seguidores do Islã oram em plena rua.
Vale lembrar que a França é a terra de nascimento de João Calvino, um dos grandes influenciadores da Reforma Protestante.
Esse crescimento vertiginoso levou à construção de cerca de 150 novas mesquitas na França, que abriga a maior comunidade islâmica da Europa. Os projetos estão em vários estágios de execução, de acordo com Mohammed Moussaoui, presidente do Conselho Francês Muçulmano, que forneceu a informação à rádio francesa RTL. Ele também disse que o número de mesquitas no país dobrou nos últimos dez anos e cita como fonte o estudo intitulado “Mesquitas em construção: o governo islâmico na França e na Holanda”.
O líder muçulmano francês mais conhecido, Dalil Boubakeur, reitor da Grande Mesquita de Paris, disse recentemente que para atender à demanda crescente, o número total de mesquitas precisa chegar a quatro mil. Por outro lado, a Igreja Católica Romana na França construiu apenas vinte novas igrejas nos últimos 10 anos, e tem mais de sessenta formalmente fechadas, muitas das quais poderiam se tornar mesquitas, de acordo com pesquisa realizada pelo jornal francês La Católica Croix.
Enquanto 64% da população francesa (41,6 milhões de pessoas com mais de 65 milhões de habitantes) são tidos como católicos romanos, apenas 4,5% (cerca de 1,9 milhão de pessoas) são praticantes, de acordo com o Instituto Francês de Opinião Pública (IFOP).
Sempre no campo de comparação, 75% (4.5 milhões) dos cerca de 6 milhões de muçulmanos na França, África do Norte e África Subsaariana são identificados como “crentes”, e 41% (aproximadamente 2,5 milhões) afirmam ser “praticantes”, segundo dados de um relatório sobre o Islã na França publicado no início de agosto.
Em comunicado em março, dirigido à Igreja Católica na França, a Federação Nacional da Grande Mesquita de Paris, o Conselho Democrático Muçulmano da França e um grupo islâmico pediram o que eles definiram como espírito de solidariedade inter-religioso, à Igreja Católica Romana, que suas igrejas vazias sejam usadas pelos muçulmanos para as orações da sexta, de modo que “eles não sejam obrigados a rezar na rua” ou “ficar refém da vontade dos políticos.”
O transtorno das sextas-feiras
Todas as sextas-feiras, milhares de muçulmanos, de Paris e de outras cidades francesas, que não podem entrar na mesquita para as orações da sexta, acabam por bloquear ruas e calçadas. Como resultado, o comércio sofre perdas consideráveis e os não-muçulmanos ficam praticamente presos em suas casas e escritórios.
Algumas mesquitas começaram a transmitir sermões e gritos de “Allahu Akbar” (Deus é grande) nas ruas. Isso causou irritação e revolta em boa parte da população, mas apesar de muitas queixas oficiais, as autoridades não intervieram até agora, com receio de gerar outros problemas. A questão da oração nas ruas ganhou prioridade na agenda política francesa quando, em dezembro de 2010, Marine Le Pen, o novo líder da extrema-direita, denunciou o fato como “uma ocupação sem tropas ou tanques”.
Durante uma reunião na cidade de Lyon, Le Pen comparou a atitude dos islâmicos com a ocupação nazista:
“Para aqueles que se lembram da Segunda Guerra Mundial, também podemos discutir este problema (as orações nas ruas), porque é uma ocupação do território a ocupação de partes do território onde a lei religiosa tem efeito. É uma ocupação. Não tem tanque ou soldado, mas não deixa de ser uma ocupação que pesa sobre os moradores”.
ELEIÇÕES 2012
Muitos franceses concordam. Na verdade a questão mais ampla do papel do Islã na sociedade francesa tornou-se um grande problema tendo em vista as eleições presidenciais de 2012. De acordo com uma pesquisa do IFOP, 40% dos franceses concordam com Le Pen que as orações parecem uma ocupação das vias públicas. Outra pesquisa publicada pelo Le Parisien mostra que os eleitores veem Le Pen como o melhor candidato para resolver o problema da imigração muçulmana. Ele argumenta que a França foi invadida por muçulmanos e traída por suas elites.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, cuja popularidade em julho chegou a 25%, a mais baixa registrada por um presidente um ano antes das eleições presidenciais, parece determinado a não ser superado por Le Pen nesta batalha. Recentemente ele disse que as orações de rua são “inaceitáveis” e que as ruas não podem se tornar “uma extensão da mesquita”. Ele alertou que esse fenômeno poderia minar a tradição secular da França de separação entre Estado e religião. Em apoio a Sarkozy, o ministro do Interior, Claude Guéant, disse que em vez de orar nas ruas eles poderia usar áreas sem utilização e que não atrapalhem os franceses. “Orar nas ruas não é aceitável, deve acabar.”
Uma estratégia premeditada?
Enquanto alguns líderes muçulmanos tentam reduzir as preocupações dos franceses, o primeiro-ministro turco Erdogan Tayyp, por exemplo, deu a entender que a construção de mesquitas é parte de uma estratégia de islamização da Europa. E publicamente repetiu as palavras da poesia turca, escrita em 1912 pelo poeta nacionalista Ziya Gökalp, “As mesquitas são os nossos quartéis, os minaretes nossas baionetas e os fiéis os nossos soldados”.
Tradução e adaptação: Milton Alves
Fontes: Infocatólica – ProtestanteDigitalcom

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