O templo e o seu ritual eram para Israel uma admirável lição objectiva. Seu propósito era instruir sobre a santidade de Deus, sobre a pecaminosidade do homem e o caminho para Deus. Uma das importantes lições do sistema sacrifical consistia em ensinar o sacerdote e o povo a aborrecer o pecado e a fugir dele. Quando um homem inadvertidamente pecava ou errava, precisava trazer ao templo uma oferta pelo pecado. O primeiro requisito no ritual do sacrifício consistia em pôr as mãos sobre o animal, confessado o pecado o transgressor. A seguir, com suas próprias mãos devia tomar o sangue e pô-lo sobre as pontas do altar do holocausto. As vísceras eram então queimadas com a gordura sobre o altar, e parte da carne era comida pelos sacerdotes no lugar santo.

  Visava isso ensinar a repulsa pelo pecado. Queria Deus que essa aversão pelo pecado fosse tão grande que os homens procurassem não mais pecar. Nenhuma pessoa normal tem prazer em matar um animal inocente, e isso de um modo especial se compreender que é por causa dos seus pecados que o animal deve morrer. Um sacerdote normal certamente não se deleitaria no serviço de sangue que devia efectuar por causa do pecado. Permanecer o dia inteiro lidando com animais mortos, mergulhando no sangue os dedos ou a mão, e espargindo-o sobre o altar, não podia ser coisa muito atractiva ou agradável. Deus mesmo diz que não folga “com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes”. Isa. 1:11.

Nem o verdadeiro sacerdote teria prazer nisso. O sistema sacrifical concedia aos sacerdotes excelente oportunidade de ensinar o plano da salvação aos transgressores. Quando o pecador trazia a sua oferta, talvez o sacerdote dissesse: “Estou triste por haverdes pecado, e estou certo de que vós também estais. Mas Deus proveu o perdão para o pecado. Trouxestes aqui uma oferta. Ponde as mãos sobre a oferta e confessai vosso pecado a Deus. Matareis depois o inocente cordeiro, e eu tomarei o sangue e por vós farei expiação da culpa. O cordeiro que ireis matar simboliza o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O Messias há de vir e dar Sua vida pelos pecados do povo. Pelo Seu sangue sois perdoados. Deus aceita vossa penitência. Ide, e não mais pequeis.”

Mediante esse solene ritual, o indivíduo ficaria profundamente impressionado com a terribilidade do pecado, e deixaria o templo com a firme determinação de não pecar outra vez. O acto de matar um animal ensinar-lhe-ia, melhor do que qualquer outra coisa, que o pecado significa morte, e que quando alguém peca, o cordeiro precisa morrer.

Belo e impressionante como era esse ritual podia ser pervertido. Se o pecador concebesse a ideia de que a oferta era pagamento pelo pecado que cometera, e que se tão somente trouxesse uma oferta cada vez que pecasse tudo estaria bem, teria uma concepção inteiramente errónea do propósito divino. Entretanto, foi essa ideia que muitos chegaram a ter das ordenanças. Achavam que seus sacrifícios eram o pagamento por seus pecados, e que se pecassem de novo, outro sacrifício expiaria a culpa. O arrependimento e a verdadeira tristeza se tornaram raros. O povo chegou a crer que fosse qual fosse o pecado, podia ser expiado por uma oferta. Com a apresentação de sua oferta, julgavam que tudo estava feito.

Muitos dos sacerdotes favoreciam essa atitude da parte do povo. O pecado não era detestado aos seus olhos como Deus pretendia que o fosse. Era uma dívida que podia ser paga com o oferecimento de um cordeiro que, em geral, custava apenas pequena soma. O resultado foi que se chegou a pensar que “milhares de carneiros” e “dez mil ribeiros de azeite” haviam de agradar ao Senhor. Miquéias 6:7.

A  remuneração dos sacerdotes favoreciam que oficiavam no santuário e, mais tarde, no templo, provinha, em grande parte, dos sacrifícios oferecidos pelo povo. Os sacerdotes passaram a ver os sacrifícios como uma fonte de renda. Os levitas, que eram os arrecadadores do dízimo pago por Israel, pagavam, por sua vez, o dízimo de suas receitas para sustento dos sacerdotes. Núm. 18:21 e 26-29; Neem. 10:38. Além disso, os sacerdotes deviam ficar com uma parte da maioria dos sacrifícios oferecidos.

Das ofertas queimadas deviam receber o couro; da maior parte das ofertas pelo pecado e pelas ofensas, tanto o couro como parte da carne. Também recebiam parte das ofertas queimadas e dos sacrifícios pacíficos- farinha, óleo, cereais, vinho, mel e sal – bem como oferta por ocasiões especiais. Isso independentemente do dízimo que recebiam dos levitas.

Dos sacrifícios pelos pecados comuns, o sacerdote devia comer uma parte: “Esta é a lei da expiação do pecado: no lugar onde se degola o holocausto se degolará a expiação do pecado perante o Senhor; coisa santíssima é. O sacerdote que se oferecer pelo pecado a comerá.” Lev. 6:25 e 26. Essa era, por assim dizer, uma refeição sacrifical. Ao comer essa carne o sacerdote tomava o pecado sobre si, e assim o carregava.

Essa ordenança, contudo, foi pervertida. Alguns dos sacerdotes corruptos viram perfeitamente que quanto mais o povo pecasse e quanto mais ofertas pelo pecado e ofensas trouxesse, tanto maior porção lhes caberia. Chegaram ao ponto de animar o povo a pecar. Está escrito acerca dos sacerdotes corruptos: “Alimentam-se do pecado do Meu povo, e da maldade dele têm desejo ardente.” Oséias 4:8. Afirma este texto que os sacerdotes, ao invés de admoestar o povo e insistir em que deixasse o pecado, tinham “desejo ardente” de sua maldade, e almejavam que pecasse outra vez e voltasse com outra oferta pelo pecado. Para os sacerdotes existia vantagem financeira em que fossem trazidas muitas ofertas pelo pecado, pois cada oferta lhes aumentava as receitas. Ao tornar-se mais corrupto o sacerdócio, mais acentuada se tornou a tendência para animar o povo a trazer ofertas.

Um comentário interessante que nos revela até que ponto alguns sacerdotes haviam pervertido as ordenanças, é-nos dado no segundo capítulo de 1 Samuel: “O costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes em sua mão; e dava com ele na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita: e tudo quanto o garfo tirava, o sacerdote tomava para si: assim faziam a todo Israel que ia ali a Siló. Também antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para asar ao sacerdote: porque não tomará de ti carne cozida, senão crua. E, dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar, e se não, por força a tomarei.” 1 Sam. 2:13-16.

Isso revela a degradação do sacerdócio já na primeira fase de sua existência. Deus ordenara que a gordura fosse queimada sobre o altar, e que se a carne fosse comida, devia ser fervida. Os sacerdotes, contudo, desejavam a sua porção crua com a gordura, de modo que a pudessem asar. Deixava de ser uma oferta sacrifical, para tornar-se, em vez disso, uma festa de glutonaria. E o seguinte comentário é feito: “Era pois muito grande o pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor.” 1 Sam. 2:17.

Essa tendência dos sacerdotes de animar o povo a trazer sacrifícios pelo pecado, ao invés de afastar-se dele, com o passar dos anos foi-se tornando mais manifesta. No tabernáculo a princípio erguido por Moisés, o altar dos holocaustos era pequeno, pois tinham apenas cinco cúbicos quadrados. No templo de Salomão foi aumentado em vinte cúbicos, ou sejam cerca de 9 metros. No templo de Herodes ainda era maior, embora não se saiba ao certo qual era seu tamanho exacto. Afirma um relato que tinha trinta cúbicos, ou seja, 13,50m quadrados e Josefo conta que tinha cinquenta cúbicos ou 22,50m quadrados. De qualquer modo, parece que o altar dos holocaustos era sempre aumentado para acomodar as ofertas postas sobre ele.

  Chegou, por fim, o tempo em que Deus precisou fazer alguma coisa, ou, em caso contrário, todo o ritual do santuário seria corrompido. Por isso Deus permitiu que o templo fosse destruído, e muitos do povo foram levados cativos para Babilónia. Privados do templo, os serviços naturalmente cessariam. A atenção do povo seria despertada para a significação espiritual das ordenanças que tantas vezes haviam presenciado, mas que já não mais existiam. Em Babilónia não mais existia holocausto nem oferta pelo pecado, nem a solene festa do Dia da Expiação. Israel pendurou suas harpas nos salgueiros. Passados setenta anos de cativeiro, Deus lhes permitiu voltar a terra natal e reconstruir o templo. Esperava que houvessem aprendido a lição.

Mas isso não se dera. O altar dos holocaustos foi feito maior do que antes. O povo se apegou ainda mais firmemente às meras formas e ritos do templo e seus serviços sacrificais, e não atendeu à mensagem profética segundo a qual “obedecer é melhor do que sacrificar”. 1 Sam. 15:22. As receitas dos sacerdotes provindas das ofertas se tornaram grandes; tão grandes, com efeito, que o dinheiro acumulado no templo constituía um dos mais vastos tesouros da antiguidade, e os sacerdotes se tornaram banqueiros.

Por ocasião de festas como a Páscoa, Jerusalém ficava repleta de peregrinos judeus que vinham tanto da Palestina como de outras terras. É nos dito que de uma vez houve um milhão de visitantes na cidade. A Israel fora ordenado que não aparecesse de mãos vazias perante o Senhor, de maneira que, está visto, todos os peregrinos traziam ofertas. Deut. 16:16.  Para os sacerdotes era humanamente impossível oferecer todos os sacrifícios necessários para satisfazer a todo o povo. Em virtude desse facto foram animados a transformar suas ofertas em dinheiro para o templo, com o qual os sacerdotes ofereciam, segundo as suas conveniências, o sacrifício que o dinheiro requeria. Logo se achou que era mais fácil e seguro não levar de casa o animal para o sacrifício.

O ofertante corria não só o risco de ver o animal rejeitado pelo sacerdote por causa de algum defeito, real ou imaginário, mas podia ter ainda prejuízo maior, pois não era fácil vender um animal que havia sido rejeitado pelos sacerdotes. Para alguns fins somente o dinheiro do templo podia ser usado, o que tornava necessária uma transação de câmbio. A troca de dinheiro comum por dinheiro do templo era outra fonte de volumosas receitas para o sacerdócio.

Os sacerdotes estavam divididos em vinte e quatro turnos, e cada um deles devia servir durante uma semana de cada vez, duas vezes por ano. Ao revestir-se de carácter político o ofício do sumo sacerdote,  e ao ser ele designado pelo governo, a corrupção se generalizou. Ao tornar-se um cargo muito lucrativo, o oficio do sumo sacerdote foi posto em leilão, e era vendido ao que fizesse melhor oferta. Para reaver o dinheiro gasto, o sumo sacerdote controlava a escolha dos turnos; e eram chamados para servir em Jerusalém ao templo das festas os sacerdotes que repartissem com os oficiais as enormes receitas que entravam nessas ocasiões.

De novo prevaleceu a corrupção, e muitos eram os sacerdotes chamados ao templo por ocasião das grandes festas, somente porque se dispunham a repartir o espólio com os oficiais superiores. Alterou-se a ordem em que os sacerdotes deviam servir no templo, e todo o plano de Deus corrompeu-se.

A expressão de Cristo mais tarde, “um covil de ladrões”, não era simples expressão poética; era de facto uma realidade.      Era visto que não se chegou a essa situação abruptamente. Foi depois de séculos haverem transcorrido que a corrupção atingiu os extremos aqui descritos. Foi relativamente cedo, contudo, que os abusos começaram a aparecer, conforme evidencia a passagem do livro de Samuel, citada no princípio deste capítulo. Ao assim perderem de vista o propósito original das ofertas, pervertendo o plano de Deus com respeito aos sacrifícios, tornou-se necessário enviar advertências aos sacerdotes. Para esse fim, Deus usou os profetas.  Desde o inicio, a mensagem dos profetas ao Seu povo era: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que sacrificar; e o atender

melhor é do que a gordura de carneiros.” 1 Sam. 15:22. Para alguns dos sacerdotes que estavam apostatando, parecia sobrevir uma calamidade se o povo deixasse de pecar; pois nesse caso cessariam as ofertas pelo pecado. É a isso que se refere o autor da epístola aos hebreus quando diz: “Porque, sendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exacta das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam. Doutra maneira, teriam deixado de se oferecer, porque, purificados uma vez os ministrantes, nunca mais teriam consciência de pecado.” Heb. 10:1 e 2.

O Antigo Testamento pode ser melhor compreendido, quando a luta entre o sacerdote e o profeta é esclarecida. Era uma luta trágica, que terminava, muitas vezes, com a vitória dos sacerdotes. O profeta é o porta-voz de Deus. O povo pode errar e o sacerdote também. Deus, todavia, não fica sem uma testemunha. Em tais circunstâncias , envia um profeta ao Seu povo para reconduzi-lo  ao bom caminho.

Facilmente se pode supor que os profetas não eram muito populares entre os sacerdotes. Ao passo que os sacerdotes ministravam no templo dia após dia, convidando o povo a trazer seus sacrifícios, os profetas podiam receber ordens de Deus para se colocarem próximo à porta do templo e advertir o povo a não trazer mais ofertas. Acerca de Jeremias está escrito: “A palavra que foi dita a Jeremias pelo Senhor, dizendo: Põe-te à porta da casa do Senhor, e proclama ali esta palavra e dize: Ouvi a palavra do Senhor, todos os de Judá, os que entrais por estas portas, para adorardes ao Senhor. Assim diz o Senhor dos Exércitos, o Deus de Israel: Melhorai os vossos caminhos e as vossas obras, e vos farei habitar neste lugar. Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este.!” Jer. 7:1-4.

Vêm depois outras advertências dos profetas ao povo para que corrija os seus caminhos e não confie em palavras mentirosas. “Furtareis vós, e matareis, e cometereis adultério, e jurareis falsamente?” diz o Senhor por intermédio do profeta, ” e então vireis, e vos poreis diante de Mim nesta casa, que se chama pelo Meu nome, e direis: Somos livres, podemos fazer todas estas abominações?” Vs. 9-11. E acrescenta significativamente: “Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que vos tirei da terra do Egipto, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos a Minha Voz, e Eu serei o vosso Deus, e vós sereis o Meu povo; e andai em todo o caminho que Eu vos mandar, para que vos vá bem. Vs. 22 e 23.

Ouçamos o que Isaias nos tem a dizer: “De que Me serve a Mim a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Já estou farto de holocaustos de carneiros, e da gordura de animais nédios; e não folgo com o sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para compadecerdes perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar os Meus átrios? Não tragais mais ofertas debalde: o incenso é para Mim abominação e as luas novas, e os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniquidade, nem mesmo o ajuntamento solene.

As vossas luas novas, e as vossas solenidades as aborrece a Minha alma; já Me são pesadas:  já estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os Meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue, Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos actos de diante dos Meus olhos: cessai de fazer o mal: aprendei a fazer bem; praticai o que é recto; ajudai o oprimido: fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.” Isa. 1:11-17.

Notemos estas vigorosas expressões: “Estou farto dos holocaustos de carneiros”. Quem requereu isto de vossas mãos?” “não folgo com o sangue de bezerros”, não tragais mais ofertas debalde”, “o incenso é par Mim abominação”; “já estou cansado de as sofrer”; “as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”.

Amós diz: “Aborreço, desprezo as vossas festas. …  Ainda que Me ofereçais holocaustos, e ofertas de manjares, não Me agradarei delas: nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos”. Amós 5:21 e 22.

Miquéias, no mesmo diapasão, pergunta: “Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus Altíssimo? Virei perante Ele com holocaustos? Com bezerros de um ano? Agradar-Se-á o Senhor de milhares de carneiros? De dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogénito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?” Miquéias 6:6 e 7. E responde à pergunta deste modo: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a beneficência, e andes humildemente com o teu Deus?” V.8.

O último profeta do Velho testamento diz: “Agora, ó sacerdotes, este mandamento vos toca a vós. … mas vós vos desviastes do caminho, a muitos fizestes tropeçar na lei; corrompestes o concerto de Levi, diz o Senhor dos exércitos. Por isso também Eu vos fiz desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardastes os Meus caminhos, mas fizestes acepção de pessoas na lei.” Mal. 2:1, 8 e 9.

Andou bem Davi quando disse: “Porque Te não comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; Tu não Te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Sal. 51:16 e 17. Dificilmente poderia Deus ter usado palavras mais vigorosas do que as empregadas para repreender tanto os sacerdotes como o povo, mas isso é perfeitamente justificável. Os sacerdotes haviam corrompido o concerto. Tinham ensinado o povo a pecar, e o fizeram crer que uma oferta ou sacrifício serviria de pagamento pelo pecado. Mereciam a reprovação do Senhor, que a tinha enviado pelos Seus profetas. Os resultados foram os que se podiam esperar nessas circunstancias. Um amargo ressentimento contra os profetas surgiu entre muitos dos sacerdotes. Odiavam os homens que eram enviados para repreendê-los.

Muitas das perseguições movidas contra os profetas no Antigo Testamento foram chefiadas ou instigadas pelos sacerdotes. Perseguiam-nos, torturaram-nos e mataram-nos. Não foi só o povo, mas sim os sacerdotes, que se opuseram e perseguiram aos profetas.

 Os oponentes de Cristo eram sempre os sacerdotes, os escribas e os fariseus. A eles Cristo dirigiu Suas mais incisivas palavras de reprovação: “Ai de vós. Escribas e fariseus, hipócritas! Pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas.. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós pois a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?

Portanto, eis que vos envio profetas, sábios e escribas; e a uns deles matareis e crucificareis; e a outros deles açoitareis nas vossas sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós caia todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias filho de Baraquias, que matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração. “Mat. 23:29-36.

Cristo foi profeta. Como tal, fez soar a mensagem profética: “Obedecer é melhor do que sacrificar.” “Vai-te, e não pequeis mais”, foi o caminho que apontou. S. João 8:11. Oferecendo-se sobre o Calvário tornou sem valor o sistema sacrifical. Pessoalmente, Cristo não ofereceu sacrifício algum. Ele não pecou; e, ensinando os homens a não pecar, feriu o cerne da perversão sacerdotal. Conquanto Cristo fosse cuidadoso em não ofender sem necessidade, e mandasse os leprosos aos sacerdotes para certificação (S.Luc. 17:14),  não passou despercebido aos oficiais que Ele não foi visto no templo com a oferta costumeira. Sentiam que Sua mensagem era uma reprovação a suas práticas, e alegraram-se quando encontraram uma acusação contra Ele em Suas divulgadas palavras acerca do templo. S. Mat. 26:61. 

Os sacerdotes odiavam a Cristo e, em chegando o tempo, seguiu Ele a longa procissão de nobres heróis dentre os profetas, dando Sua vida. Foram eles que em realidade causaram a crucifixão de Cristo. Enchiam com isso a taça da iniquidade. Acreditavam nos sacrifícios pelo pecado e que por esse meio podiam obter o pecado – a mensagem profética – muitos dos sacerdotes não a compreendiam, ou pelo menos não a ensinavam.

Não se deve pensar, todavia, que todos os sacerdotes eram ímpios. Muitos homens fiéis se contavam entre eles. Houve entre eles profetas como Ezequiel. Era desígnio de Deus que cada sacerdote tivesse o espírito profético e fizesse soar a mensagem profética. No plano divino não basta procurar remediar as coisas depois de se haver cometido o mal. É muito melhor evitar o mal do que procurar remediá-lo. É admirável alguém se levantar do pecado e da degradação, mas ainda mais admirável é ser guardado de cair.

“Vai-te, e não pequeis mais”, é a verdadeira mensagem profética. Obedecer é melhor do que sacrificar. Todo verdadeiro servo de Deus deve fazer soar esta mensagem, se é que deseja cumprir o conselho divino. Deus sempre precisou de profetas. São Seus mensageiros para corrigir o erro. Ao surgirem entre o povo de Cristo tendências que por fim levarão ao desastre, Deus envia Seus profetas para corrigir essas tendências e advertir o povo.

A lição para este tempo não deve ser perdida. A obra do profeta não estará terminada, enquanto a obra do Senhor na terra não estiver concluída. Deus quer que Seus ministros façam soar a mensagem profética. Ao surgirem abusos, uma voz deve soar, conclamando o povo a voltar para os rectos caminhos do Senhor. E cada mensagem assim deve ser seguida da clarinada que convida à abstinência do pecado, à santificação, à santidade.

Disse o profeta: “Obedecer é melhor do que sacrificar.” Cristo disse: “Vai-te e não pequeis mais.” Todo ministro deve exemplificar esta doutrina em sua vida e ensiná-la com seus lábios. Sempre que deixe de assim proceder, não vive à altura de seu elevado privilégio. É agora o tempo de enviar a mensagem profética até os confins da terra. Foi essa a ordem de Cristo quando nos confiou a grande comissão evangélica de ensinar todas as nações e baptizá-las, “ensinando-as a guardar todas as coisas que Eu vos tenho mandado.” S. Mat. 28:20. Essa ordem, de observar todas as coisas – está a par com a mensagem profética, de que obedecer é melhor do que sacrificar. Uma vez feita esta obra o fim virá.

(O Ritual do Santuário, cap. Sacerdotes e Profetas)

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Pastor M.L Andreasen, Dinamarquês, foi secretário da Conferência Geral além de outros importantes cargos. Lutou fortemente contra uma nova concepção teológica a qual excluía, entre outras, a doutrina do Santuário de nossa igreja. Escreveu pouco antes de morrer uma carta à Conferência Geral que lhe custou às credenciais ministeriais, num dos trechos de uma das cartas: “Nós temos alcançado uma crise em nossa denominação onde líderes estão tentando impor falsas doutrinas e ameaçam aqueles que se objectam contra. Tal processo tem se tornado inacreditável. Homens estão agora tentando remover as fundações de muitas gerações, e pensam que serão  bem sucedidos. Se não tivermos o Espírito de Profecia, não discerniríamos tais doutrinas que nos ameaçam e a  vinda do ômega que farão tremer nossas fileiras e causar graves feridas. A presente situação tem sido claramente exposta. Estamos perto do clímax . (Cartas para a Igreja, núm. 3) Na cerimónia de seu enterro foi devolvida suas credencias pastorais num gesto hipócrita, característico do sacerdotes modernos que  pretendiam lavar as suas mãos diante dos homens!

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