Primeiro Ministro David Cameron com “o representante de Satanás na Terra” (Referência do texto entre aspas: Livro O Grande Conflito, página 50)

“Em todos os meus anos de ativismo, nunca senti tal ânimo contra qualquer indivíduo quanto sinto contra esta criatura. Suas opiniões são tão enojadoras, tão repelentes e tão enormemente danosas ao resto das pessoas, que a única coisa a fazer é livrar-se dele.” Assim a jornalista britânica Claire Rayner, também romancista, ex-colunista de conselhos e ativista-profissional-por-causas-dignas recebeu a notícia da chegada do papa Bento 16 ao Reino Unido.

Outros foram mais receptivos. Como esta foi a primeira visita de Estado do papa ao Reino Unido, Bento teve uma conversa amigável com a rainha, apertou a mão do primeiro-ministro e rezou com o arcebispo de Canterbury. Ele celebrou a missa no Hyde Park e beatificou o cardeal John Henry Newman, um convertido do anglicanismo no século 19. Foi a primeira beatificação que ocorreu na Inglaterra.

Os ataques na véspera da visita foram tão viciosos, na verdade, que se falou em cancelamento. Por outro lado, é ainda mais difícil imaginar muitos outros líderes religiosos estrangeiros recebendo tanto tempo na mídia ou tendo suas opiniões tão peritamente dissecadas. Como o papa foi atacado tão furiosamente, seus defensores receberam quilômetros de espaço em jornais – pelo menos a imprensa britânica sabe que uma polêmica de duas mãos é sempre mais interessante – e diversas janelas em programas de entrevistas.

Políticos competitivos também tiveram sua participação: como os ataques mais violentos ao papa vieram da esquerda, o Partido Conservador se interessou pelo caso, no lado da defesa. Um ministro ligou para um jornalista católico que eu conheço e pediu para ser levado ponto a ponto através da “Humanae Vitae”, uma encíclica anterior do papa sobre o controle de nascimentos. O primeiro-ministro conservador, David Cameron, agradeceu em público ao papa por fazer o Reino Unido “sentar-se e pensar”, e disse que foram “quatro dias incrivelmente comoventes para nosso país”.

Em resumo, foi um enorme sucesso. Mas, se ele tivesse sido tratado com educação desde o início, desconfio que o papa teria chegado e partido sem deixar vestígios. A vasta maioria dos britânicos não é católica, e teria evitado relatos elogiosos a seus sermões. A imprensa teria relegado a coisa toda à seção religiosa. Talvez os fiéis ainda tivessem ido à missa, mas possivelmente não tantos. Afinal, cerca de 500 mil pessoas provavelmente o ouviram durante sua visita, o que é muito em um país composto principalmente por pagãos e protestantes.

Fonte: Washington Post, Anne Applebaun.

Deixe um comentário

Tendência