
John Rogers (1500-1555) viveu durante o Reinado de Maria, a Sanguinária.
John Rogers se educou em Cambridge, e foi depois muitos anos capelão dos mercadores empurrados a Amberes, em Brabante. Ali conheceu o célebre mártir William Tyndale, e a Miles Coverdale, ambos voluntariamente exilados de seu país por sua aversão à superstição e idolatria papal. Eles foram os instrumentos de sua conversão, e se uniu com eles na produção daquela tradução da Bíblia ao inglês conhecida como a “Tradução de Tomás Mathew”. Pelas Escrituras soube que os votos ilegítimos podiam ser legitimamente quebrantados; por isso se casou e se dirigiu a Wittenberg, na Saxônia, para aumentar seus conhecimentos; ali aprendeu a língua alemã, e recebeu o encargo de uma congregação, cargo que desempenhou fielmente durante muitos anos.
Após um tempo, Nicolas Ridley, que era então o bispo de Londres, o fez canônigo da catedral de são Paulo, e o decano e o capítulo o designaram leitor da lição de teologia. Ali continuou até o Ascenso ao trono da rainha Maria – a sanguinária, quando foram desterrados o Evangelho e a verdadeira religião, e introduzido o Anticristo de Roma, com sua superstição e idolatria.
Confirmou ele em seus sermões a doutrina ensinada na época do rei Eduardo, exortando o povo a guardar-se da abominação do papismo, da idolatria e da superstição. Por esta razão foi chamado a dar conta, mas se defendeu de maneira tão capaz que foi pelo momento libertado. Mas a proclamação da rainha proibindo a verdadeira predicação deu a seus inimigos um novo pretexto contra ele. Por isso, foi chamado de novo ante o conselho, e se ordenou sua prisão domiciliar. Ficou então em sua casa, embora houvesse podido escapar e foi quando viu que o estado da verdadeira religião era desesperado. Sabia que não lhe faltaria um salário na Alemanha; e não podia esquecer sua mulher nem seus dez filhos, nem deixar de tentar obter os meios para suprir suas necessidades. Mas todas estas coisas foram insuficientes para induzi-lo a ir embora, e, quando foi chamado a responder a causa de Cristo, a defendeu firmemente, e pus sua vida em perigo por esta causa.
Depois de um longo encarceramento em sua própria casa, o agitado Bonner, bispo de Londres, o prendeu em Newgate, lançando-o em companhia de ladrões e assassinos.
Depois que o senhor Rogers tiver sofrido um estrito encarceramento durante um longo tempo, entre ladrões, e tendo sofrido muitos interrogatórios e um tratamento muito pouco caritativo, foi finalmente condenado da forma mais injusta e cruel por Stephen Gardiner, bispo de Winchester, o 4 de fevereiro de 1555. Uma segunda-feira pela manhã, foi repentinamente advertido pelo guarda de Newgate que se preparasse para a fogueira. Estava profundamente sonolento, e lhes deu muito trabalho acordá-lo. Ao final, desperto e levantado, ao ser apressado, disse: “Se é assim, não há necessidade de amarrar-me os sapatos”. Assim o levaram, primeiro ao bispo Bonner, para que o degradasse. Feito isto, lhe fez um único pedido ao bispo Bonner, e este lhe perguntou de que se tratava. O senhor Rogers lhe pediu para falar um breve tempo com sua mulher antes de ser queimado; porém o bispo se negou.
Quando chegou o momento de ser levado de Newgate a Smithfield, onde seria executado, um xerife chamado Woodroofe se aproximou do senhor Rogers e lhe perguntou se queria desdizer-se de sua abominável doutrina e da má opinião acerca do Sacramento do altar. O senhor Rogers respondeu: “O que tenho predicado o selarei com meu sangue”. Então Woodroofe lhe disse: “Tu és um herege”. “Isto se saberá”, replicou o senhor Rogers “no Dia do Juízo”. “Bem”, disse Woodroofe, “nunca orarei por ti”. “Porém eu sim orarei por ti”, disse-lhe o senhor Rogers; assim foi tirado naquele mesmo dia, o 4 de fevereiro, e levado pelos xerifes até Smithfield, dizendo pelo caminho o Salmo Miserere, e deixando o povo surpreendido com sua inteireza, dando louvores a Deus e gratidão por tudo. Ali, em presença do senhor Rochester, controlador da Casa da Rainha, de Sir Richard Sothwell, ambos xerifes e uma grande multidão, foi reduzido a cinzas, lavando-se as mãos na chama enquanto ardia. Pouco antes de ser queimado lhe trouxeram o indulto, caso se desdissesse; mas negou-se de forma total. Ele foi o primeiro mártir de toda a bendita companhia que sofreu em tempos da Rainha Maria. Sua mulher e filhos, onze em total, dez que podiam caminho e um bebê de peito, foram vê-lo no caminho, enquanto se dirigia a Smithfield. O triste espetáculo de ver sua própria carne e sangue não o moveu, contudo, a debilidade, senão que aceitou sua morte com constância e ânimo, em defesa e na batalha do Evangelho de Cristo.
Fonte: O Livro dos Mártires (John Fox)
Para saber mais: artigo em inglês na wikipédia.

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